sábado, 26 de abril de 2008

2° Controle

Aí estão algumas respostas que a monitora Larissa destacou no último controle:


A partir dos acontecimentos que levaram à ocupação da reitoria da UnB, foram colhidos depoimentos de estudantes que participaram da mobilização. Escolha um trecho dos textos de Maquiavel, Arendt ou Habermas e relacione com um tema das falas de estudantes. Importante:escolha apenas um autor(cite a página e trecho que destaca no texto) e faça sua análise.

Depoimento 1- Racionalidade na Assembléia geral dos estudantes - “A Assembléia é antes de tudo um espaço de relação social entre pessoas que estão vivenciando diferentemente um mesma realidade e que se encontram para construir um projeto comum” - Paulo Henrique, Ciências Sociais, 9° sem.

Depoimento 2 – Origem do poder na movimentação estudantil - “O poder dessa movimentação estudantil emerge da vontade coletiva por mudanças estruturais e das relações sociais que se estabelecem no espaço de convivência universitário” - Alan Shiva, Sociologia e Jornalismo, 6° sem.

Depoimento 3 – Concentração de poder nas mãos do reitor - “Vários professores foram influenciados com relações pessoais em projetos de pesquisa e regalias. Como o voto não é paritário, houve concentração de poder que dificultou o controle da gestão” - Rafael, Ciências Sociais, 7° sem.


Resposta 1:


Hanna Arenth diferencia, em seu livro “sobre a violência”, poder e violncia: “A forma extrema de poder é o todos contra um, a forma extrema da violência é o Um contra todos. E esta última nunca é possível sem instrumentos” (pág 35). Fica claro, a partir deste trecho, que o ato ocorrido na reitoria da UnB recentemente foi algo mais complexo do que um ato de violência realizado por uma minoria. Viu-se, aí, coisa muito mais complexa. Quando vimos uma minoria ocupar, sem a utilização de instrumentos, o que descaracteriza um simples ato violento, pudemos observar o poder que possuiam. E este poder emanou justamente, “da vontade coletiva por mudanças estruturais”, como foi dito por Alan Schiva no seu depoimento. De maneira simplificada, tivemos da seguinte forma o acontecimento: Um grupo de alunos mais ativo se reuniu em uma assembléia e decidi a ocupação da reitoria, mas não está aí, nesse simples ato, a origem do poder desses estudantes. A origem do poder está na outra parcela de estudantes. Dos que não agiram ativamente no movimento inicialmente, podemos observar outra uma outra separação entre aqueles que se uniram a ele posteriormente, aqueles que foram contra e aqueles que se mostraram a favor ou indiferentes. O poder emana justamente desta “imensa unidade negativa”, para citar Stephen Spender, que possui o poder e recusa-se a utiliza-lo para subjugar os desordeiros. Assim, por estranho que pareça, é correto justificar que o poder está, justamente, nesta última parcela de estudantes citada, a menos ativa. É válido colocar também, porém, que apesar de não possuir o poder, esta minoria é essencial, afinal sem ela não haveria movimento algum.
(Renato Gonçalves Teles)


Resposta 2:


Para Arendt, no texto Sobre a Violência, poder e violência são conceitos opostos. A autora defende, a partir deste pressuposto, que o poder não advém da violência, a origem do poder está ligada ao entendimento comum, ao consenso.

O depoimento do estudante do 9° semestre de Ciências Sociais, Pedro Henrique, alude para o fato de que a ocupação da reitoria, que é embasada nas decisões da assembléia, caminha para a construção de um projeto comum entre os estudantes.

A primeira associação que pode ser feita, entre a posição do estudante e a visão de poder de Hanah Arendt, possibilita argumentar que o movimento de ocupação da reitoria possui e construiu um poder legítimo, no qual as decisões nas assembléias dos estudantes são visando um entendimento comum.

Arendt também coloca que atos revolucionários somente acontecem em espaços que estão perdendo o poder. A gestão Moholland padecia de questões éticas, por conta do mau uso de dinheiro público. De tal forma, que o consentimento da comunidade acadêmica em torno do reitor, firmando na sua eleição (momento fundacional), diluiu-se.

Assim, pode-se concluir que o movimento dos estudantes é legitimado no consenso, no entendimento comum. Como pode ser visto pelo apoio, também de professores e funcionários no pedido de afastamento de Muholland. O poder construído pelos estudantes é legítimo. E na oposição de Arendt é poder e não violência.
(Luiz Humberto P.V. Neto)


Resposta 3:


Segundo Hannah Arendt, “ O poder corresponde à habilidade humana não apenas par agir, mas para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo(...)(p.36)”. Esse conceito relaciona-se bem com o tema do depoimento 2, que diz que há uma vontade coletiva de mudanças ; tal fato dá origem a uma organização (no caso, o movimento estudantil), que detém o poder. A autora fala também do momento fundacional, aqui seria, portanto, a união de um grupo de alunos que entraram num consentimento a respeito de seus interesses, o que origina, segundo Arendt, poder. Ainda segundo ela, a partir do momento em que este grupo for se desintegrando, ele vai perdendo seu poder; e é neste ponto em que pode haver violência, com caráter instrumental apenas. E se isto entra em vigor, significa que não há mais um consentimento, não há mais poder, apenas obediência, como fica claro no trecho “A violência sempre pode destruir o poder; do cano de uma arma emerge o comando mais efetivo, resultando na mais perfeita e instantânea obediência. O que nunca emergirá daí é o poder” (p.42)
(Juliana França Varella)


Resposta 4:


No depoimento de número 3, o estudante Rafael apontou a concentração do poder nas mão do reitor e de certos professores como origem da crise que causou o descontentamento dos estudantes e culminou com o afastamento de toda a direção da universidade.

Em certo sentido, os perigos que este tipo de regime corre já haviam sido apontados pelo pensador florentino Nicolau Maquiavel:


“Quem Chega à condição de príncipe com o auxílio dos magnatas conserva-a com maiores dificuldades do que quem chega com o auxílio do vulgo(...) Acresce ainda que diante de um povo hostil jamais um príncipe poderá sentir-se em segurança, por serem os inimigos demasiado numerosos. O inverso acontece com os grandes, pelo motivo mesmo de serem poucos.” (Nicolau Maquiavel, pg. 32)

Nesse trecho, Maquiavel é claro em mostrar que um regime como o do ex-reitor Timothy corre sérios riscos ao se colocar no poder apenas pelas mãos de poucos e contrariar a imensa maioria da comunidade universitária.
(Thomas Edson J. T. Amorim)

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